Com BC cauteloso, renda fixa continuará a ser atraente
Especialistas não esperam ousadia na redução do juro, o que garante bom retorno
RIO – O reinado da renda fixa entre os aplicadores brasileiros, que poderia ser ameaçado por um ritmo mais intenso de corte de juros, deve durar mais do que se imaginava. Com a esperada aceleração no aumento das taxas americanas sob Donald Trump e, por aqui, um Banco Central (BC) pródigo em sinais de parcimônia, especialistas esperam agora que a redução na taxa básica (Selic) tende a ser menos intensa. Como resultado, aplicações beneficiadas por juros altos, como títulos do Tesouro Direto, devem continuar bastante atraentes por mais tempo.
Flavio Lemos, diretor da Trader Brasil Escola de Investidores, concorda que as antigas NTN-Bs são as aplicações mais recomendáveis a longo prazo, enquanto o pós-fixado é interessante para quem pode precisar do dinheiro a qualquer momento. Ele não recomenda prefixados.

stão pagando 12% ao ano. Não acho que essa taxa vai cair muito para os novos títulos no ano que vem. Tem de ser muito otimista para acreditar que a economia vai melhorar a esse ponto — diz Lemos, que vê a Selic em 12% ao fim de 2017.
Ele acrescenta que há boas oportunidades em LCIs e LCAs, isentos de IR, e em CDBs. Mas lembra que é preciso sair do eixo dos grandes bancos para achar rentabilidades mais altas nesses papéis.
— Parte importante dos meus investimentos está em CDB — conta Luiza Mesquita Campos, advogada de 28 anos, que tem entre seus CDBs um do banco Pine, que paga 117% do CDI, por meio da XP INVESTIMENTOS. — Sou conservadora, então aplico em produtos de baixo risco. Tenho interesse em aplicar em LCI, mas preciso estudar um pouco mais.
A advogada já investe no Tesouro Direto e vai reservar 30% do 13º salário para comprar novos títulos. Ela pretende seguir a dica dos especialistas:
— Vou dividir a aplicação entre os títulos atrelados à Selic e à inflação. O Tesouro Direto deve continuar como meu principal investimento, porque as rentabilidades continuarão atraentes.
Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu os juros em 19 de outubro — o primeiro corte em quatro anos —, os investidores acreditaram que um ciclo agressivo de redução da Selic havia finalmente começado. No dia seguinte, o banco Santander, por exemplo, previu que os juros cairiam dos 14% em que estavam para 9,5% ao fim de 2017. Os contratos de juros futuros com vencimento em 2021 registraram a mínima de 11,07% naquele dia. Até que, no início de novembro, Trump foi eleito nos Estados Unidos. A percepção de risco cresceu, e os mercados passaram a prever uma alta mais rápida dos juros americanos, o que teria reflexo nos emergentes, como o Brasil.
— Os juros vão ficar altos por mais tempo do que antecipávamos. Muita gente previa que a Selic cairia abaixo de 10% no fim do ano que vem, e agora estão tendo de rever isso. Com isso, a renda fixa vai continuar sendo uma boa oportunidade de investimento — afirma Sandra Blanco, da plataforma digital de investimentos Órama.
Por aqui, os investidores começaram a ver no BC um excesso de conservadorismo. O corte de apenas 0,25 ponto na Selic na reunião de 30 de novembro, para 13,75% ao ano, a despeito da recessão profunda, consolidou essa percepção. Houve ainda aumento de instabilidade política por questões como o caso Geddel Vieira Lima.
Com tudo isso, alguns economistas estimam que a Selic pode terminar o ano que vem ainda em 12%. A projeção do Bank of America Merrill Lynch (BofA) é de 11,25%. Para o banco, a Selic só ficará abaixo dos 10% no fim de 2018. Nas últimas semanas, o mercado financeiro vem pressionando o BC por cortes maiores, devido à recessão.
—Teremos um ciclo mais alongado de redução da Selic. O BC deveria ter começado o ciclo cortando 0,5 ponto percentual (em outubro, a redução foi de 0,25 ponto). Eu já achava que os juros reais (descontando-se a inflação) estavam muito elevados — afirmou David Beker, do BofA.
O mercado viu na ata da última reunião do Copom, divulgada na semana passada, sinais de que o BC vai acelerar o corte para 0,5 ponto a partir de janeiro. Mas Paulo Figueiredo, diretor de Operações da assessoria de investimento FN Capital, não acredita que isso significará uma guinada de cortes ousados:
— O BC vai manter a cautela, esperando dados mais significativos de inflação. Toda essa situação dá, de certa forma, sobrevida à grande vantagem da renda fixa e mantém a atratividade de investimentos atrelados à Selic.
Segundo Figueiredo, com os juros ainda em patamar alto, uma boa opção de curto prazo são as aplicações pós-fixadas que acompanham de perto o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e, portanto, a Selic. Como o Tesouro Selic, título público atrelado à taxa básica, e os fundos DI. Já para quem quer deixar o dinheiro aplicado por alguns anos, Figueiredo cita os prefixados, cuja rentabilidade é determinada no início da aplicação.
— A longo prazo, a tendência continua sendo de queda dos juros. Assim, esses papéis estão oferecendo hoje remuneração mais alta do que devem oferecer daqui para frente — explica. — Logo, seria recomendável aplicar em pós-fixado a curto prazo e pré-fixado a longo prazo.
Paulo Gomes, também vê pós-fixados como melhor aplicação a curtíssimo prazo. Mas o investidor deve saber que tirar o dinheiro após pouco tempo no Tesouro Direto e em fundos de investimento implica alíquota mais alta de Imposto de Renda. Quem saca a aplicação antes de seis meses recolhe 22,5%.
— Hoje, o mais interessante é o pós-fixado. Temos uma Selic de 13,75% ao ano, uma rentabilidade excelente para a inflação que nós temos. Os títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+, antiga NTN-B) estão pagando na faixa de 0,76% ao mês, enquanto o CDI está em 1,05%. Ou seja, o pós-fixado está pagando mais. Mas essa relação vai mudar a partir do ano que vem, logo, trata-se de uma aposta de curtíssimo prazo — observa.
TESOURO IPCA+, UMA OPÇÃO
Para prazos mais longos, Gomes recomenda o Tesouro IPCA+, que paga a inflação no período mais juros determinados no momento da compra:
— Nos próximos dois anos, a própria redução de juros vai diminuir o juro real do país, valorizando o título que for comprado agora. Com esse processo, o investidor poderá lucrar se sacar o investimento antes, embora isso envolva risco. Isso também acontece com os títulos prefixados, mas o Tesouro IPCA+ tem a vantagem de representar uma proteção para eventual subida do dólar por causa de Trump. Isso porque, quando o dólar sobe, a inflação também tende a subir.
Na sexta-feira, o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2019 oferecia juros de 6% ao ano mais inflação; aquele com prazo em 2024, de 6,13%; e o de 2035 pagava 6,08% ao ano.
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